"Love is the triumph of imagination over intelligence." H. L. Mencken

21 de junho de 2009

Então, Porquê?



Como primeiro pensamento solto do meu blog, decidi seguir um post do “Jugular” sobre os “blufs” da homofobia, dos argumentos que são utilizados para desacreditar a causa homossexual e toda a sua luta.

Em primeiro está sem sombras de dúvidas o argumento de que a homossexualidade não é “normal”, de que esta é anti-natura e que por isso não deve ser aceite. O que eles parecem não saber é que a Natureza é imensa, e que não tem regras pré-estabelecidas, mas que cada ser segue os seus instintos (e no caso do ser humano os seus gostos). Pois caso houvesse um livro com “As Regras da Natureza” como seria? Faríamos como a viúva negra que devora o seu parceiro após o acto sexual? Como os grupos de leões, onde há um macho alfa que tem o direito sobre todas as fêmeas? Ou como as anacondas que se encontram somente para a procriação? Penso que está demonstrado que a Natureza é variada, e que não existe uma regra a ser seguida.

Em segundo lugar temos o argumento de que o casamento é o laço que une a célula nuclear da sociedade, a família. Então digam-me lá, qual é a noção de família? Pai, mãe, filho? Bem, se é essa a resposta tenho imensa pena em informar, mas essa já não é a realidade e não é o núcleo de família. Famílias monoparentais, famílias reconstruídas, divorcio, infertilidade, óbito, são várias os exemplos existentes de que uma família hoje em dia não se limita a essa definição. São incontáveis as formas de família existentes, e nenhuma delas prejudica a outra, ou se sobrepõe a ela. Um casal homossexual constitui uma família assim como um casal heterossexual, sem mais nem menos.

Em terceiro lugar temos o apuradíssimo argumento de que não vale a pena mexer nisso agora. Temos todos mais o que fazer e assuntos mais importantes em que pensar, temos uma crise à porta, o desemprego espreita, a deflação ameaça…. Mas o que raio e que uma coisa tem a ver com a outra? Não podemos comparar importâncias, isso é lógico, mas se tivéssemos esse pensamento de “agora não é o tempo” não fazíamos nada, pois há sempre algo mais importante a ser feito. Toca a mexer-se para mudar as coisas, sejam elas mais actuais ou menos importantes.

Em quarto lugar encontramos a famosa afirmação de que são manobras de diversão, porque não há qualquer discriminação na lei contra os homossexuais, e o que eles querem é dar nas vistas. Meus caros, não sei a vossa definição de discriminação, mas a minha inclui a parte em que temos os mesmos direitos. E desde que um casal homossexual não detém os mesmos direitos que um casal heterossexual, a meu ver, isso é discriminação. Pois o casamento não se trata somente da festa, dos convidados, das prendas e da lua-de-mel, trata-se de direitos e deveres conjugais!

Em quinto lugar encontramos os “reaccionário apocalíptico”, que dizem “ Não porque não, porque está tudo bem assim”, sempre foi assim porquê mudar agora? ”É um bocado o raciocínio do João César das Neves: ontem legalizou-se a água das pedras, depois o divórcio, agora o aborto, amanhã a pedofilia, depois de amanhã os discos do Toy, onde irá isto parar?"
Já um famoso poeta dizia “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, logo lá porque foi assim, não significa que tenha de continuar da mesma forma. As coisas mudam, é necessária a mudança.

Em sexto temos aquele que não argumenta nem expõe ideias, mas apenas dados incoerentes, conceitos vagos, dizem que “faz-lhe confusão”, e que não conseguem compreender. Eu também não compreendo muita coisa, mas não é por isso que sou contra. Se não percebo, faço um esforço por compreender e ver do que se trata. Depois sim, poderei tirar conclusões.


Por fim, “last but not least”, encontramos os indivíduos que dizem que sim, “tudo bem, não tenho nada contra os homossexuais, por acaso até conheço um, coitado, nem é má pessoa, cada um sabe de si e leva onde gosta, podem até viver juntos mas casar é que não, porque isso é algo reservado às pessoas normais e decentes”. NORMAIS E DECENTES? COITADO? Mas onde é que vives? Espero que pelo menos seja uma gruta com umas pedras bem confortáveis! È que normal e decente são dois termos muito abstractos. O que é normal para ti, pode não ser normal para mim. Logo a única coisa a fazer é respeitar a “anormalidade” do outro. Pois cada um dá o rumo que pretende à sua vida, e não é porque se acha que algo não deveria ser assim que se pode condenar.

2 comentários:

  1. Tenho a dizer que embora a ideia das viúvas negras seja um conceito facilmente aplicável àquelas pessoas que sabemos, um dia irão perecer, devido a um qualquer síndrome (sim, sabes exactamente ao que me refiro), o mundo estará verdadeiramente perdido caso alguém legalize os discos do Toy e por aí e além.
    Quanto ao coitado não sei, mas a minha gruta tem pedras aquecidas e almofadadas.
    Apesar de tudo, há anormais que vale a pena conhecer, ou não.
    Ainda assim, será importante referir que se "somos todos iguais, independentemente da etnia, sexo, idade, etc.", a crise chega a todos, a mailing list volta para nos morder o rabo, e as pessoas, sejam elas hetero, bi ou homossexuais, são todas iguais em direitos e deveres, pelo que seria de uma "normalidade" total legalizar a questão e dedicarmo-nos a causas mais importantes, como os penteados das docentes saídas de uma revista de Decoração.
    Posto isto, e nada mais tendo a acrescentar, vou deixar o suspense (que até 31 de Outubro ainda falta imenso).

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  2. O casamento homossexual, essa eterna (por enquanto) bandeira da liberdade e igualdade ainda vai, quanto a mim (infelizmente), dar que falar. Só vejo duas soluções: ou se aprova o casamento e continuamos todos felizes, cada um com a sua família, o seu par e os seus direitos; ou se extreminam em massa os homo/bi/transexuais. Estando nós em época de crise, esta segunda via nem seria má de todo, uma vez que se criavam novos postos de trabalho e se reduzia o desemprego. No entanto, sabemos que Hitler teve um enfarte quando viu a conta do gás dos seus campos de concentração e não queremos o mesmo destino para o nosso primeiro-ministro, pelo que a primeira opção parece mais segura, mais barata, e mais justa.
    Perder-me em considerações sobre a homossexualidade poder-me-ia levar a gastar o limite de caracteres para o comentário (que não sei se existe), portanto ficará para outra altura.
    Antes, porém, apenas dois ou três apontamente para a comunidade: dantes, a escravatura era uma realidade, até ser abolidade, e o divórcio era proibido, até ser permitido; este assunto, que na verdade não era de suprema importância, acabou porcomeçar a ganhá-la pelos constantes entraves que se lhe põem; por fim, tal como acontecia com a polémica do aborto, ser a favor não significa que se pratique, apenas significa dar liberdade a cada uma para escolher o seu rumo.
    Para o autor deste blog, esta pérola da literatura online: o que referes no último parágrafo sobre ser normal para uns e para outros remete vagamente para um conceito de subjectividade. Nesse sentido, aconselho vivamente a passagem por outra (não tão grande) maravilha literária que dá pelo nome de Borboletas e Furacões.
    Para o habitué da lista de comentários: cuidado com expressões como "a minha gruta tem pedras aquecidas e almofadas". Num mundo em que mailing lists andam por aí à solta feitas cães, é perigoso este tipo de ditos.

    Fim do Pseudo-MST+RAP

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